quinta-feira, 14 de maio de 2015

Convite

        Ah! Os sonhos.. Doses insensatas de irrealidades e jogadas de subconsciente. Sempre nos revelam o que queremos, pensamos, tememos.
        Sonhos são como uma festa de aniversário. Existem convidados, aqueles que sempre aparecem porque os amamos e queremos junto a nós. As comidas, a música, o cheiro. A sensação de estar dentro desse mundo, idealizado, trocado, invertido. O ápice é o bolo, cheio de suas deliciosas camadas e coberto por um chocolate intocável, que quando acordamos, muitas vezes gostaríamos de dormir novamente e reviver intensamente cada momento daquele mundo imaginário.
        No entanto, os penetras sempre aparecem. Você tenta entender o que fazem ali, como chegaram, como não foram barrados na porta de sua imaginação. Você não os quer ali, mas seu subconsciente almeja aquela presença e busca incessantemente fazer com que ela se mantenha ali.
        Você luta contra aquilo, tenta acordar, mas seu sono tão profundo e aconchegante o faz chegar mais perto daquele à quem você tanto busca se afastar.
        O bolo vem, as luzes se apagam: é hora de assoprar as velas.
        Os indesejados não se diferenciam na multidão e você se acostuma. As luzes voltam.
        Aquela pessoa está ali. Imóvel. Te encara.
        T     e     n    t    a  u  m  a  a  p  r o x i mação.
        ...
        "O café está pronto!"
        O dia começa e aquele sonho acaba. Você não sabe os resultados, mas diferentemente dos outros a lembrança se mantem clara.
        Ah, penetras! Porque continuam aparecendo?
        Eu os convido a se esvair e nunca mais voltar.

Do dia em que meu carro resolveu estacionar no vizinho

        Existem momentos e situações inacreditáveis que acontecem no nosso dia-a-dia. Comigo, foi quando meu carro se rebelou e resolveu que a garagem da minha casa não era boa o suficiente pra ele.
        Quando você estaciona seu meio de locomoção, existe um aparato chamado "freio de mão". Sim. Aquele que você tem que puxar com força e que faz um barulho pra puxar, meio duro. Pois bem. Ontem, parei meu carro na garagem, depois de subir uma rampa. Coloquei no "P", que é o park (estacionar) e supostamente puxei meu amigo, o freio.
        Ah! A incerteza das situações é o que mata os seres humanos e fere suas mais profundas indagações.
        Entrei na minha casa, meu pai deitado com sono, eu guardando a bolsa...
        PAAAAAH! ..... PAHHHHH! PAHH!
        MEU DEUS, O QUE TÁ ACONTECENDO?
        Quando você ouve um estrondo gigantesco, meia-noite, parecendo que o mundo caiu, o que você pensa?
        A princípio, saí correndo. Achei que havia acontecido um acidente na frente da minha casa. "Alguém perdeu o controle e bateu no portão" - foi o primeiro pensamento que me veio à mente, aquele que acontece em uma fração mínima de segundos.
        Olhei pela janela. "CADÊ MEU CARRO?" O portão jogado no meio da rua. Portão de ferro, preto, forte. Como alguém poderia ter arrancado o portão do lugar tão freneticamente e roubado o carro? Não era possível. Meus dedos já haviam tomado vida e digitado 190 na tela do meu celular, que tremia na minha mão.
        Em meio aos meus gritos - sim, talvez minha reação tenha sido um pouco histérica, mas quem nunca deu uns berros que ature a primeira pedra - olhei ao fundo, além do meu portão, além da rua, da calçada, do portão escancarado da casa do vizinho: meu carro! MEU CARRO! - "Cara, o que é que você tá fazendo aí?"
        Ele tinha um olhar tão perdido, havia descido todo aquele percurso de costas, talvez sem saber o que estava acontecendo. Parado. Estacionado. Reto.
        Os momentos que se seguiram foram confusos. Não consigo entender o que aconteceu, só lembro de pessoas, meu pai e irmão em choque, meu carro na garagem alheia.
        Alguns minutos depois ouvi outro estrondo: Michael Schumacher Schumacher - ou aspirante - passou correndo em cima do portão que estava completamente torto e no canto da rua. Estava errado, mas ao menos desentortou o portão, o que não era algo tão ruim assim.
        Meu carro havia descido, retirado um portão, aberto outro, batido no carro do vizinho, derrubado tanque... Ensandecido.
        A noite passou, e até agora quando fecho meus olhos só consigo ver meu carro perfeitamente estacionado em uma garagem que não era a minha.

Moral da história: "Mais vale um freio de mão puxado do que carros voando".

terça-feira, 14 de abril de 2015

"8 letters, 3 words, and I'm yours"


Outro dia, li um texto que falava sobre o uso exagerado do termo "eu te amo". Mal pude acreditar no modo como eu concordei com aquelas palavras, que soavam tão sinceras e compatíveis com o que eu havia pensado durante uma década. Ao mesmo tempo, me senti hipócrita ao perceber que as tinha pronunciado sem sequer parar e pensar pra ver se eram sinceras.
O amar vai além do dizer, e vai mais fundo que o pensar. Amar é uma escolha, uma atitude.
Nunca pensei que fosse tão difícil fazê-lo.
Amar pais, irmãos e até aquele parente que você encontra às vezes em um evento de família é muito fácil. Quero ver escolher amar uma pessoa com quem você tem pouca convivência, ou até que você não gosta tanto assim. Quero ver amar de verdade aquele rapaz ou moça que você acha maravilhoso(a), mas que no fundo é só uma paixão. Aquela paixão "que o tempo há de apagar".
As coisas não são tão fáceis assim. Ou talvez sejam, não sei ao certo.
Acredito que amar alguém se demonstra por atitudes e não por palavras. Pessoas que dizem que amam, mas na primeira oportunidade jogam esse amor para cima e se apegam a si mesmos. Amores que se dissolvem com os problemas, que só perduram quando a vida vai fluindo de modo já esperado. O único problema é que isso é raro. Raríssimo.
As pessoas querem amar e ser amadas. Mas não escolhem isso. Escolhem paixões desenfreadas e sentimentos duvidosos.
Mas até onde o "eu te amo" segue sem ser um mero abrir de boca?

terça-feira, 31 de março de 2015

"Não me lembro como eu era antes de..."

A definição de quem se é ou se tornou é algo inerente na atual sociedade com que nos deparamos todos os dias. Mas, afinal, quem somos?
Muitas vezes tenho a sensação de que somos a união dos estilos e características das pessoas que transitam à nossa volta todos os dias. É como se nós moldássemos aos comportamentos alheios, de modo que instintivamente nos tornássemos parecidos com essas pessoas. 
Tanto no modo como nos vestimos, quanto no jeito de nos expressar e reagir à determinadas situações. É inconsciente.
Quem nunca deu uma resposta para alguém com alguma expressão que algum amigo ou parente usa o tempo todo e só percebeu depois? Quem nunca começou a utilizar algum adereço ou peça de roupa porque viu alguém próximo usando e achou interessante?
Quem?
Nosso caráter é moldado diariamente de acordo com as pessoas que nos cercam. Nossa personalidade existe, mas apresenta as mais diversas facetas quando submetida à companhias diferentes. 
Lembre-se de quem você é essencialmente. Se não o fizer, tente se lembrar de si mesmo antes de algum acontecimento marcante. Quem era você?

quarta-feira, 25 de março de 2015

Insônia

Busco me desligar do mundo
Mas pensamentos me mantêm conectada
Em uma linha de raciocínio sem lógica 
Perdida entre os sentimentos do ir e do ficar

As linhas tênues e escuras das luzes apagadas
Iluminadas pelo céu que se contém de seduzir
O sono passa despercebido tentando se mostrar
Os sonhos não se permitem aparecer

Dorme, moça. Dorme.
Pra que venham as luzes coloridas 
As da insônia mais ferida
Que não vê a hora de passar

Orchestra


Orchestra

O gosto do silêncio paira por aqui e por ali
Instrumentistas se encontram ao acaso no coreto
Troca de olhares, sorrisos tímidos
Um faz do chão seu palco
O outro subitamente o acompanha

Cordas, tilin-tilin, desafinação
Rostos sem graça, desapercebidos
Cordas, tilin-tilin, nota correta
Começa-se um ritmo lento
Cordas se entrelaçando com medo
Notas entre comentários
Comentários complexos

O ritmo se acelera
Um corre, o outro anda
Encontros e desencontros de som
Seguem-se os sussurros da noite
Desafinação

O outro corre, um anda
Há movimentação no coreto
Pessoas assistindo, sombras observando
Olhares se cruzam mas não se enxergam
A música acabou, o som já não é mais
Nem com partituras se recria o que aconteceu
Um músico se levanta, o outro fica

Joana
25.03.2015




domingo, 22 de março de 2015

Por que...

Saudade dói?